Momentos. Reminiscências. Vivências. Sentimentos. Lugares. Pessoas. Músicas. Poesias. Livros.

quarta-feira, junho 29, 2011

Cotidiano

O dia abafado tinha começado errado – o filho de seis meses havia acordado febril e choroso, demandando mais cuidado e atenção que de costume; a vizinha que adorava conversar apareceu pra um chimarrão fora de hora; o gás acabou quando o almoço ainda estava pela metade. Este, terminado às pressas, às pressas foi servido para as filhas, que já estavam com o tempo estourado para a escola. A menor, de cinco anos, olha pra mãe e diz: “mãezinha, tenho que terminar a tarefa que a tia mandou.” “Como assim, terminar a tarefa, filha??? Você não fez tudo pela manhã???” “Faltou grampear.” A mãe corre até a prateleira onde fica o material de apoio da escola - a sensação de urgência e os cabelos que caíam pela nuca aumentavam o calor e a irritação. Na mesa da sala, as duas filhas pequenas encostadas, apoiadas nas mãos, esperavam. Ela chega, pega o trabalho e o grampeador não funciona. Um pouco mais irritada volta até a caixa, pega grampos e abastece o grampeador – que novamente não funciona.

“Mana”, diz a mais velha se afastando, “vamos pra lá que a mãe tá irritada.” Incontinenti, senta no degrau da escada que leva ao pavimento superior e fica quieta, já conhece a mãe, sabe quando está prestes a perder a paciência. A irmã, ao contrário, continua onde estava, observando a mãe que luta em vão pra consertar o grampeador antigo, propriedade querida do pai desde os seus tempos de infância.

“Mãe, você tá irritada?”

A mãe, sem pensar, levanta a mão com o grampeador e arremessa, com força. Não na filha, mas numa trajetória perigosamente perto, rumo à parede onde ele se despedaça em mil pedacinhos. A filha, estrategicamente sai e, sentada ao lado da mais velha, diz: “É, mana, a mãe tá irritada.” Ri. Não sabe se de susto por ter feito aquilo sem pensar, correndo o risco de acertar a pequena; se de susto ao perceber que, no ímpeto da irritação havia destruído o grampeador de estimação do marido; se pelo simples fato de ter quebrado algo deliberadamente, coisa que nunca havia feito e nunca mais se repetiu; se pela tranquilidade da filha constatando sua irritação gratuita. Não sabe bem porque, mas a irritação acabou. Desapareceu, por encanto.

Pega o trabalho, as filhas, as mochilas das filhas, as lancheiras das filhas, o filho acomodado no bebê conforto, coloca tudo no carro e parte rumo à escola. Um dia comum na sua vida.

sábado, junho 25, 2011

Pra toda vida


Maya dorme no quarto dela, a portas fechadas.
Paula dorme no meu quarto, com a porta aberta.
Matheus dorme no colchão da sala.

E o silêncio de seu sono é a canção mais linda no meu coração.

domingo, junho 19, 2011

Choque de gerações



Ela está sentada no bar, tomando um chope enquanto aguarda a amiga que não chega. Pelo espelho vê o gato olhando fixamente pra ela, do outro lado. Disfarça, arruma o cabelo e olha de volta, pensando que ele é mais novo, bem mais novo. Mas é lindo, maior de dezoito, faz sombra no chão. Pede outro chope, se vira e vê que ele continua olhando, fixamente. Retribui o olhar e sente um calorzinho pelo corpo, subindo até a cabeça: é o ego, aquecido pela situação, afinal ela não está tão mal assim, aos quarenta e poucos, e aquele gatinho lindo dando o maior mole. Esboça um sorriso, meio tímido, meio provocante. Na porta, a amiga chegando, ela acena. O gato levanta-se e vem até ela, sorriso aberto. Nossa, ele é um verdadeiro deus grego, nossa!!! Sorri de volta, e quando ele chega bem pertinho fica sem saber direito o que fazer. Ele resolve o problema, estendendo a mão e perguntando:
"Tia, você não é a mãe da Fulana?"
Choque. Total e absoluto. Tia???
"Sim, sou. Você?"
"Eu sou o fulaninho, brincava com ela na sua casa quando era pequenininho..."
"Bem que eu pensava estar te reconhecendo..."
Saída honrosa pra um ego dilacerado.
=)

quinta-feira, junho 02, 2011

Descobertas

É claro que eu te amo.
É claro que gosto do aconchego do teu abraço.
É claro que gosto do amor que a gente faz.
Gosto do teu cheiro, gosto do teu beijo, gosto de estar contigo.
É claro que gosto de ti.


Mas gosto tanto da vida (leve) quando estás distante...