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terça-feira, setembro 22, 2009

O mundo precisa ser mesmo assim?

A gente reclama, reclama, e não muda, não faz nada no sentido de alterar mesmo algo pequeno... porque as grandes mudanças começam, sim, por pequenas coisas - por mais que digam que não. Se a família tá toda espalhada, se os amigos estão um em cada canto, o que se pode fazer?? Impossível, por mais que se queira, juntar todos e seus interesses diversos, pessoais e coletivos, num único lugar - então, porque cargas d'água insistir em sofrer com isso????
A morte traz uma nova perspectiva da vida.
Acho que nunca, em tempo algum, senti-me assim tão frágil e desprotegida. A consciência inequívoca de que não tenho mais o colo de meu pai para me abrigar, seja em qualquer circunstância, dói em meu coração uma dor tão imensa, tão profunda, tão persistente e permanente que não sei nominar, não posso explicar Antes, ainda que doente e debilitado, ele estava lá. Sua figura era um porto seguro em tempestades inesperadas - e saber que agora, mesmo que o mundo caia sobre minha cabeça não terei sua presença, seu colo como referência de segurança e paz, saber isto com esta certeza plácida e imutável, dói.
A morte traz uma nova perspectiva da vida.
Penso em minha mãe, tão distante de mim. Penso em meus filhos, mais distantes ainda. E em meus irmãos, idem. De que adiantam os dias se estou longe de minhas raízes, meus alicerces, meus entes mais queridos? De que vale o amor do meu companheiro, de que vale o sol e o mar da Bahia, se não tenho comigo as presenças que validam minha vida?
Ligo para Vera, preciso conversar. O melhor de tudo é que não é necessário me identificar, nunca. Ela sempre reconhece minha voz, sempre sabe que sou eu - mas hoje, entre panos e cenários e coisas de teatro (tem uma apresentação e tudo está, invariavelmente, atrasado. E sob sua coordenação - que consciente ou não, traz pra si a responsabilidade de que tudo saia bem.) atende resfolegante, e nem estranha que eu ligue após tanto tempo sem notícias 'palpáveis', e conversamos como se nos tivéssemos falado ontem a noite - mas ela não pergunta, e eu me calo. Sabemos, ambas, que se liguei é porque a saudade era insuportável ou porque precisava desesperadamente conversar. Mas seu tempo, hoje, não era passível de pequenos furtos para mim - o que me faz pensar, mais e mais, no sentido da vida, no que faz diferença, no que tem real valor. Para quem mais, Deus, eu poderia ligar? Cloé, que vi ainda ontem, e que está envolvida em seus problemas tão mais tangíveis do que os meus? Como despejar no colo de minha amiga pré sexagenária meus anseios, minhas dúvidas, meus medos, minhas insatisfações, minhas incoerências e absurdas carências??? Lylia, tão longe, e tão longe...??? Como ligar para de repente, e transatlanticamente despejar sobre si minha incompletude, minha finitude, minha indefível busca por algo que nem mesmo sei o que é? Cláudia, que também conhece esta minha sensação de infinita busca e insatisfação??? Melhor calar. Melhor guardar pra mim isto que nem mesmo sei definir, e que me hoje me consome sem que possa amenizar seu efeito, sua dor, sua marca.
A morte traz uma nova perspectiva sobre a vida.

domingo, setembro 20, 2009

Do fundo do baú...


Sobrevivem em mim
sonhos de infância
(renitentes)
de ser feliz.
Pelejam emoções diversas.
Ainda que capenga,
a alegria (resiliente)
não se entrega.
Permanecem ilusões
(sentimentos rotos)
de inocência, pureza,
amizade azul.
Sonhos, quantos assassinados!
No preciso instante
em que os abandonei
pela vida direita,
respeitável e digna,
de gente grande.
Sei que, procurando bem,
hei de adivinhar algum
solitário
insolente
à espera do herói
que o virá libertar
de sua prisão.
Vã ilusão.
Coragem (ousadia?)
não vem à cavalo.
Não é príncipe encantado
que vence os dragões
as bruxas
os perigos e sortilégios.
Coragem é herói solitário.
Nasce
e cresce
em cada um.
E meu sonho
-sobrevivente-
se mantém
à espera do dia
em que
eu permita crescer
tal herói em mim.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Desabafo (pequeno, pro tanto que eu gostaria de falar)


Na segunda feira, depois de estar longe da net por todo o fim de semana, começo a ler o post no Pipoca e Coca Cola, que penso a princípio ser da primogênita - a caçula tem deixado o barco à deriva. Mas aos poucos vou me tocando que não - é Maya quem escreve sobre Escolhas e Responsabilidades - um texto grande, que não me surpreende (é típico dela esta maturidade e estes questionamentos), que me deixa curiosa (sobre o fim de semana interessante e conversas e constatações), me encanta (Não quero mais fazer promessas. Eu vou tentar...), me faz questionar meu papel de mãe/educadora/mentora/amiga/companheira/... (E é exatamente disto que eu estou falando: de responsabilidade... E é aqui que eu encaixo a palavra que realmente falta na minha vida: disciplina), me faz pensar. Propositalmente não faço comentários.
Vou ao google buscar algo que li há algum tempo, e que alguém, em algum lugar, me havia comentado, que é a questão de interesse em muitas coisas, curiosidade em saber, ânsia por conhecer simplemente para saber, de inteligências múltiplas e não encontro. Mas penso em tantas vezes que tanta gente elogiou minha filha e sua inteligência, e penso na dificuldade em "escolher" um caminho profissional - tantas as áreas afins, penso na facilidade em aprender e assimilar conceitos e conteúdos de difícil compreensão para os colegas da mesma idade... e lembro de um papo com César, ex-professor seu, no almoço do meu aniversário: "o Fulano (professor de matemática) ficava muito indignado! Ele chegava pra mim e dizia: Cesar, é impossível! Faço uma prova super difícil pra pegar aquela menina prepotente e ferro toda a sala, mas ela se sai bem, não acredito!"
E aqui entra a segunda parte do que quero falar.
Leio hoje o desabafo no Insensato Pensamento, e me questiono sobre o que originou este post (Eu não me acho superior a ninguém). E penso na pessoas que tantas vezes não entendem as outras. Ou tem dificuldade em simplesmente aceitar aquilo que está além do seu entendimento. Ou tem ciúmes/inveja/medo do que não compreendem/sentem/conhecem. Se você tem sede de saber apenas por curiosidade, por saber, você é prepotente. Se você tem facilidade em aprender, você é arrogante. Se você se questiona sobre o mundo como é e pra onde vai, você é soberbo. Se você não gosta de arroz e feijão como todo mundo, você é metido. Se você não segue o fluxo e questiona, você é insolente. Se você tem idéias próprias, você é pomposo. Se você gosta de ler e foge do lugar comum, você é metido. Se você, além de tudo isto é bonito (mesmo que não seja a Angelina ou a Halle ou a ZetaJones) e pertence a uma família de nível intelectual/cultural/econômico um pouco (só um pouco) acima da média e ainda por cima comete o pecado de ser amado e aceito incondicionalmente por esta família, aí, meu caro, você é inaceitável.
E de alguma maneira tem que ser perseguido, combatido, aniquilado, reduzido a pó. Não, isto não faz com que estas pessoas se tornem mais inteligentes, mais cultas, mais conscientes, mais ecologica/politicamente corretas - mas faz com que elas não vejam através de você a pequenez de si mesmas, a mesquinhez em que estão mergulhadas, o egoísmo em que se deixam absorver, a inércia de seus sentimentos, a mediocridade de suas vidas.
Por isto urge diminuir através de comentários maldosos, brincadeiras mesquinhas, atitudes desprezíveis e pequenas o que você é - porque é inadmissível que você seja assim só pelo prazer de ser você mesma e ter seu lugar no mundo. É inadmissível que você possa pensar em ser feliz enquanto estas pessoas de mente tacanha não conseguem vislumbrar em suas vidinhas parvas um caminho pra si mesmas.
E fico triste ao pensar que estas pessoas conseguem despertar estes sentimentos (Eu sinceramente não queria ser assim/ Eu gostaria de ser alguém normal/quanto mais eu me procuro, mais decepcionada eu fico, e minha tristeza é real/ eu fico colocando e tirando tantas máscaras diferentes o tempo todo que eu nem sei qual é a minha verdadeira identidade). A mim, o que me preocupa, é que pessoas especiais não tenham consciência de que o são. Preocupa-me que pessoas menores influam em pessoas maiores (principalmente quando a grandeza está na inconsciência deste fato). Preocupa-me, muito, que pessoas que sabem que a verdade de cada um é única, indivisível, impermanente e mutável tenham suas convicções abaladas pela massa dos lugares comuns - porquê apesar de o mundo ser movido pela massa, são os indivíduos que fazem a diferença. E por mais que corra o risco de me imputarem soberba, confesso aos quatro ventos em letras maiúsculas e megafones virtuais o orgulho imensurável do ser humano benignamente sobranceiro que minha caçula é - por mais que algumas almas sujas tentem convencê-la do contrário. E tenho dito.
(Maya, não me venha com churumelas: tá te faltando colo de mãe pra você lembrar o ser especial que é. Tô chegando!!!)

sexta-feira, setembro 11, 2009

Cotidiano, again


Chego em casa, sempre, depois das sete. Tá, às vezes, mais raramente agora, depois das nove.
Aí vem todo o ritual particular: tirar a roupa; ligar o som (nos últimos dias, IRA. Mas pode ser Ney Matogrosso, Maria Rita, Vitor e Leo, Legião, quase tudo - menos pagode ou qualquer outra música baiana, e rock pesado); me jogar no sofá olhando uma revista ou um livro; tomar banho; providenciar comida; assistir aos últimos capítulos de Caminho das Indias (confesso: a surra de Cristiane Torloni em Leticia Sabatela foi decisiva pra minha rendição!) comendo... me largar sem pressa, sem compromisso. Se dá vontade, lavar a louça, organizar algo pendente. Se não, ligar o computador, conversar com filhos, amor, irmãos, mãe... e por último, navegar ao léu um pouco. Aí já é quase meia noite - o que me força a parar no primeiro ou segundo blog descoberto, com a promessa íntima de que no outro dia vou voltar pra conhecer todo o conteúdo que, à primeira vista, me agradou - nunca cumprida, claro. Mas o sono, ultimamente, não vem. É quando me dá vontade de escrever e escrever e escrever, e as histórias e os textos pululam em minha mente, mas me forço a permanecer deitada (amanhã é sempre dia útil, e tenho que levantar cedo), esperando o sono chegar.
E aí já é outro dia, que começa devagar mas termina sempre igual. E sempre incompleto.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Os sons do dia começando invadem o quarto, o ouvido, o cérebro.
A marisia chega junto, e se instala como só ela sabe, dentro de mim ao lado da fadiga.
Mais uma quinta feira de azáfama e labuta.
...
29 dias me separam das férias.
...

terça-feira, setembro 08, 2009

Estudo sobre embriaguez

Leio e releio o poema de minha filha. Pergunto-me se seria capaz de fazer um exercício igual...e pelo menos tento.Menos deprê... mas não tão bom. Mas valeu o exercício:

Vamos beber qualquer coisa
que a lua avança no mar
e há salobros fantasmas
que não quero visitar.
Embriaguemo-nos pois
de doçura, encanto, ilusão
que assim são feitos os sonhos,
a vida e seu condão.
Vamos beber qualquer coisa.
O que for. Vamos beber.
Não interessa se depois
a ressaca venha nos contender.
Então os fantasmas já se terão ido,
longe, onde não se pode visitar
e na lua sobre o mar o sentido
de viver a vida e sonhar.