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terça-feira, junho 16, 2009

A eterna estrangeira

"Quando me perguntam por que quis ser jornalista, sempre respondo que me fascina contar histórias. Por que não foi ser escritora, então? Falta-me talento."
... Quando eu tinha aí uns nove anos de idade já sabia o que queria da vida: ser mãe. E jornalista. Porque jornalista, uma menina de classe média baixa dos anos setenta? Não me pergunte - não saberia responder. Neta mais velha de uma grande família alegre e bagunceira, mas sem nenhuma história de 'leitores' na bagagem - a não ser meu amado tio Dner, que morreu exatamente um dia após meu aniversário de seis anos - quando seu filho mais novo também havia completado um ano - e talvez isso explique o amor tão forte que sinto por este primo hoje homem feito, de quase dois metros de altura e espírito bonachão, mas na época um menininho lindo de cabelos dourados. Mas isto é outra história. Uma das lembranças mais queridas que tenho é da biblioteca de meu tio - professor universitário, único formado de uma leva de seis irmãos 'Deus' - mas isto também é outra história. A biblioteca era um lugar mágico, com paredes cobertas de armários cheios de livros... lembro que todos os dias eu queria visitar minha tia, e chegando lá fugia, assim que possível, para a biblioteca do tio, onde me perdia lendo coleções e coleções de livros infantis que ele havia comprado para seus filhos, que não sabiam o valor incalculável daquele tesouro que fazia meus olhos brilharem como se, cada vez que me encontrava ali, fosse noite de natal... lembro-me de me esconder sob a escrivaninha na biblioteca por vezes incontáveis para poder ler em paz, sem ninguém falando na minha cabeça "essa menina precisa parar de ler desse jeito, isso faz mal!"... outra lembrança boa é meu avô João, sertanejo rude e iletrado, que despertava até medo, tamanho o respeito na família... pois este homem rude me colocava no colo e contava 'causos' intermináveis de fantasmas, de mulas sem cabeça, de luzes que brilhavam em cemitérios em noites escuras, de onças e caçadas e tantas outras aventuras e fazia minha imaginação voar e despertou a vontade de também ser contadora de histórias... e tudo o que posso imaginar é que quis ser jornalista por influência direta dessas duas pessoas tão importantes na minha vida - e que talvez nunca tenham imaginado isso. É, acho que quis ser jornalista porque gosto de contar histórias... e o desejo de criança se realizou, fui mãe - três vezes. Mas ainda não sou jornalista - embora goste de contar histórias.
"Para permanecer nessa ideia, termino dizendo apenas que sou jornalista porque gosto de contar histórias. Gosto de contar histórias porque me gusta conhecer histórias. E gosto de conhecer histórias porque há muitas delas esperando para serem contadas, apesar de quase ninguém perceber. Infelizmente, algumas narrativas não podem ser vividas. Mas contadas, imagino eu, cada uma daria um clássico, embora se fosse eu a autora da obra não saberia como terminá-la. E uma história inacabada é um drama para qualquer escritor, ainda que se trate de um amador."
... Então. num desses passeios pela net, sem rumo e sem prumo, fugindo do material que me olha de sobre a cama para estudar, vou ler o blog de minha filha, ídolo incondicional. E vejo um texto, "Papai Noel veio em junho" http://tatilazz.blogspot.com/2009/06/papai-noel-veio-em-junho.html, de uma sua amiga. E vou ler. E me emociona o texto, a história, seu pai. Talvez a saudade de meu pai, que já não posso mais curtir, tenha potencializado minha emoção - mas não acredito. Sei que amo o texto que leio, e resolvo ler mais embaixo 'despertador', 'três fatos', 'histórias'... e descubro que gosto muito, muito de seu jeito de escrever, de como expõe os sentimentos, de como encadeia as idéias, de como usa as palavras, de como me faz lembrar de porquê eu sonhei, um dia, ser jornalista. E sinto vontade de contradizê-la quando ela diz 'falta-me talento'. Escritora nata, contadora de histórias da melhor qualidade, jornalista de talento, uma mulher traçando seu caminho e escrevendo sua história e muitas outras que valem a pena... grande garota, essa menina Tatilazz, Tatiana Lazzarotto, a filha do Papai Noel, de quem já ouvi tantas histórias contadas por Paulinha e que conta histórias que eu gostaria de ter contado, que faz poemas que eu gostaria de ter feito... autores que me fazem sentir assim despertam minha total admiração.
... A partir de agora, sou sua fã. Declarada, porque fã, na verdade, eu já era. :)

sexta-feira, junho 05, 2009

Do fundo do baú - 02


Não se acostume com a palavra amor.
Não faça dela um lugar comum.
Não a banalize.
Não a utilize em vão.
Que cada vez que seus lábios a pronunciem
venha com sabor de fruta madura colhida no pé
daquelas que dá vontade de agarrar com as mãos
levar à boca
trincando os dentes
se fartando em seu sumo e polpa.
Que cada vez que o som sair de sua boca
traga o prazer da água cristalina
bebida na fonte
aplacando a sede mais feroz.
Que a palavra amor seja em seus lábios
verdade e sentimento.
E em seu coração, todo imensurável bem que é.

quarta-feira, junho 03, 2009

Do fundo do baú - 01


Arrumando a casa chego, finalmente, aos papéis.
Escritos antigos, rascunhos, poemas, crônicas, enfim... coisas que nem me lembrava mais, palavras rabiscadas em momentos indefiníveis na memória... para reorganizar, colocar aqui um a um, por um tempo. Até porque minha produção hoje é pífia, há muito não escrevo, há muito não tenho 'surtos' criativos... então, do fundo do baú, um poema - meio erótico, talvez. Filhas, não se escandalizem. Essa, afinal, é sua mãe - mulher antes de tudo.
...
Ouço o barulho do portão
nem bem chego à porta
meu homem
todo mãos
e mãos
e mãos
e língua
e beijos
me tira o fôlego
e nem sei
minhas mãos
onde vão.
Seu beijo me toma toda
e o vestido no chão
apara o gozo
protege o corpo
desse urgência
sua
minha
sempre.
Então
brincando
displicente
com um bico
do meu seio
me olha
sorriso maroto
'oi, meu amor.
senti saudade.'
Essa é minha verdade.